Tinha paixão?

Tinha paixão? Assim os gregos se despediam das pessoas quando morriam. Hoje novamente me deparei com essa citação e dessa vez ela reverberou mais forte. Tinha paixão? Talvez porque esteja vivendo um momento de muitas paixões. E me perdendo entre elas… Talvez justamente porque esteja faltando paixão… Sem dúvida, paixão é a palavra da vez. No café, no almoço e no jantar. No trabalho e no final de semana. Para todo lado que viro, lá está ela: invadindo todo o espaço ou brincando de esconde-esconde. Definitivamente, não consigo viver sem. E nem quero!

Lembro-me que comprei, ainda adolescente, uma camiseta que dizia algo como – a vida é muito curta para não se estar apaixonada. Virou meu mantra. Escrevia isso em todos os lugares, nos cadernos, agenda, para as amigas e até nas colagens-arte que fazia (tenho que confessar que não consigo me desapegar da camiseta. Está nos meus planos transformá-la em algum objeto decorativo, porque como camiseta ela já deu o que tinha que dar, mas ainda adoro olhar para ela!) Bom, mas voltando à velha paixão, dá para viver sem. Mas vale a pena? Assim como os gregos sabiamente perguntavam – tinha paixão? De que vale a pena viver, se não foi com paixão? Sem paixão não é viver. É sobreviver.

Sou por natureza apaixonada. Sem paixão, não consigo sair do lugar. Me mexer, para quê? Gasta muita energia. É um problema, porque muitas vezes a preguiça me ganha fácil. Acordar cedo para ir malhar na academia? Hum…, mas a cama está tão aconchegante… Amanhã, eu vou. Prometo! Amanhã parece não chegar nunca. Acordar de madrugada e pegar estrada para montar a cavalo? Já fui! Pulo da cama ligada na tomada, se duvidar, antes do despertador. Tudo é uma questão de paixão: academia não configura na lista. Atividades ao ar livre estão no topo. A questão, às vezes, é que para curtir a atividade ao ar livre, preciso estar em forma, caso contrário é como pagar promessa. Um sofrimento. Outro item que não está em alta nas minhas listas. A vida é cheia dessas pequenas paixões: jogar conversa fora com amigos; viagens; tomar banho de chuva; estar com alguém especial; ler um bom livro debaixo das cobertas; mexer na terra… e nos esquecemos delas… Vivemos sem paixão. Vivemos como robôs de uma atividade para outra, como que ticando uma lista de afazeres feita por alguém que não nós mesmos.

Esquecemos que a vida nos foi dada para aproveitarmos. Para vivermos!

A vida é feita de pequenas paixões. Vividas diariamente, constantemente; se não, fica só o vazio. O mundo hoje promete satisfação instantânea, mas superficial. Infelizmente, a paixão, que arde sem sentir, requer um pouco mais de entrega. Requer uma intenção, uma ação e até um esforço. Nem sempre estamos dispostos a dar esses passos e ficamos sempre imaginando a grande paixão – inatingível. Na verdade, a vida está o tempo todo nos dando chances para nos apaixonarmos. Cabe a nós, o primeiro passo. E o segundo. E o terceiro. Talvez por isso, muitas vezes apenas sobrevivemos. Não damos os passos. Nos acanhamos e ficamos na zona onde a paixão não reina e nos sentimos seguros longe de seus desmandos. Mas estamos sempre nos perguntando por que não estamos apaixonados! Simples: não nos entregamos. Não nos permitimos.

Apaixonar-se supõe riscos. Exposição de nossas fragilidades e de quem somos. Do que queremos, do que gostamos, para aonde queremos ir. Apaixonar-se é cair e levantar. Todo dia. É colocar paixão em tudo que fazemos e experimentar. É ter esperanças e acreditar no que estamos vivendo.

Quando comprei a camiseta imaginei viver um grande amor, daqueles de “viveram felizes para sempre”. Afinal, estar apaixonada, só podia ser por alguém, certo? Sim e não. Um grande amor? Não sei se posso dizer que foi um, mas foram inteiros. De corpo e alma. E todas as cicatrizes que um amor inteiro traz consigo. Hoje? Sinto falta de um amor inteiro. As estórias tem sido mais entrecortadas, em partes e repartes. Mas nem por isso deixo de viver apaixonada. Talvez seja a tal da maturidade. Apaixonar-se hoje é muito mais do que apaixonar-se por uma pessoa. É apaixonar-se por mim. Apaixonar-se pelo outro, de diferentes formas. Apaixonar-se por algo. Apaixonar-se por uma causa. Ou muitas causas. Apaixonar-se pelo pequeno, pelo detalhe. É entregar-se por inteiro. É viver o sonho.

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