Fundo do Poço

Conta a lenda que no fundo do poço tem uma mola que joga para cima tudo o que cai no buraco negro. Gosto dessa ideia de bater no fundo e voltar com a carga toda para superfície. Infelizmente quando se trata do nosso querido Rio de Janeiro, ainda estamos em queda livre. Sem conseguir visualizar, em um futuro próximo, o fundo e a tão esperada mola…

Mal nos recuperamos da escolha de Sofia da última eleição municipal e somos acordados com dois ex-governadores presos. E isso é só o começo da queda. Aparentemente esse poço é bem fundo…

Desanima. Olhamos em volta e vemos o tráfico ganhando velhas posições, reocupando seus espaços e territórios…aumento nos assaltos e violência nas ruas… A ilha da Fantasia fechou para balanço, sem data para reabertura.

Se a Copa do Mundo e as Olimpíadas deixaram um legado foi nos dar o gostinho de quero mais: quero mais rua; quero mais turista; quero mais festas; mais oportunidades; mais trabalho… quero a minha cidade de volta.

Nos últimos anos vimos uma política de pacificação dar frutos, a renovação da cidade, ampliação do metrô e redistribuição do transporte coletivo. Experimentamos novos programas na educação e na saúde. Ganhamos dois museus novos e um aquário!

Demos dois passos para frente. Agora estamos dando um passo para trás. Precisamos ficar atentos para não dar outros para trás. E, sim, voltar a andar, mesmo que bem devagarinho, para frente. Nós, como sociedade, não podemos, mais uma vez, nos esconder atrás de grades e carros blindados. Precisamos, mais do que nunca, ocupar a nossa cidade. Ela nos pertence. Pertence ao trabalhador. Ao cidadão que paga seus impostos. Aos empresários que oferecem postos de trabalhos. Aos estudantes que querem estudar. Aos aposentados que merecem curtir sua praia e teatros, depois de tantos anos de contribuição. Não podemos fechar os olhos e fingir que não estamos vendo. Que não nos afeta diretamente toda a corrupção que tira dinheiro da educação e da saúde para privilegiar alguns poucos. Não podemos continuar sem teto de gastos. Assumir que o céu é o limite para as despesas de salários, contratação de mais funcionários públicos, aumento dos investimentos… e impostos. Está na hora de crescer e deixar para trás os anos infantis – crença absoluta que um governante, independente de qual partido seja, é capaz de resolver todas as questões em quatro anos, só gastando, e também os anos de adolescência em que experimentamos um pouco de cada coisa, tentamos aqui e ali… Está na hora de olhar para o quadro geral, ver o que deu certo, o que deu errado e aprofundar os investimentos de tempo e recursos nos projetos que mostraram o seu valor. A UPP mostrou a que veio e que, se for acompanhada de programas sociais de melhoria das condições de vida dos moradores das comunidades – saneamento básico, banco social, incentivo ao empreendedorismo e educação – pode ser um fator de mudança real da cidade, elevando milhares de pessoas para a classe C e quem sabe B. Não, não é o caminho mais fácil ou rápido. Mas é o único efetivo. Já tentamos o atalho, usando apenas a força policial, não deu certo. Hora de fazer o dever de casa direito. Idem para os modelos das UPAs que deram certo em tantos bairros.

Por favor, tirem a gestão econômica das mãos dos políticos salvadores da pátria e deem para uma dona de casa eficiente. Como toda boa dona de casa aprende desde cedo, só se gasta aquilo que tem. Viver pendurada no cheque especial envelhece e dá rugas! As mulheres, em geral, tem mais jogo de cintura na hora de lidar com cenários não tão favoráveis – desemprego, queda nas receitas… Cortam na própria carne e por último, só se precisar, a educação das crianças.

Temos um longo e árduo caminho pela frente, mas se fosse fácil não teria graça. Estamos ainda dando os primeiros passos mas, juntos, precisamos continuar andando. Um passo de cada vez. Cabral e Garotinho representam o que temos de pior dentro da nossa sociedade. Eles estão começando a cair e vão levar junto mais um tanto de outros. Mais um passo em direção a mola no fundo do poço. Obrigada aos juízes Bretas e Moro por nos darem esperanças! Nesses momentos de incertezas e inseguranças precisamos dar valor aos pequenos passos e continuar andando. Precisamos encontrar apoio no outro, na sociedade civil e tomar posse da nossa cidade. Não como sindicatos e coletivos sem rostos, mas como indivíduos que pagam seus impostos em dia e merecem ter suas vozes ouvidas. Quem sabe nesse caminho nos inspiramos em Churchill e sua promessa de sangue, suor e lágrimas e fazemos nossa cidade orgulhosa de novo e cheia de si como merecemos?

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