Por que?

QUESTIONAR-SE

Por que é tão difícil questionar? Não estou falando aqui das perguntas básicas com respostas prontas ou superficiais. Quero saber da pergunta da resposta que não quer ser dita.

Por que? Por que? Por que? Eu não tinha nem terminado de falar quando fui interrompida por essas perguntas. Era a breve apresentação de cada aluno na aula introdutória de “Entrevistando para documentário”. Ao final da rodada entre os 12 alunos, conhecíamos mais de cada um, mas principalmente a nós mesmos.

‘Por que?’ muitas vezes, ou melhor, na maioria das vezes nos coloca num lugar desconfortável. Tira-nos do script que estava escrito na nossa mente e nos faz pensar, nem que seja para rearrumar as palavras e sair pela tangente. Mesmo assim continua ressonando na nossa cabeça, sem nos dar sossego até que conseguimos sufocá-lo com alguma coisa ou finalmente dar uma resposta que faça sentido.

Por que é tão difícil questionar? Não estou falando aqui das perguntas básicas com respostas prontas ou superficiais. Quero saber da pergunta da resposta que não quer ser dita, ou mesmo da não existência da resposta. Por que não fazemos essa pergunta? Temos medo da resposta ou de ficar no vazio do ‘não sei’?

Somos educados para termos e expressarmos, opinião sobre tudo ou quase tudo. O mundo hoje nos enche de informações mas não nos dá tempo para refleti-las e digeri-las.

Aprendi mais nessa primeira aula do que nas 3 restantes. A escolha de cada palavra tem um significado por trás só esperando o famoso ‘Por que?’ para vir a tona. É como se estivéssemos o tempo todo pedindo para sermos desvendados, mas ninguém tem tempo. Nem nós mesmos!

Em outra aula precisei apresentar uma autobiografia de uma página. Ou seja, tinha que dar conta de 36 anos de maneira sucinta, objetiva e ainda por cima, interessante. Afinal, quem quer parecer desinteressante quando está contanto sua própria história? Demorei para sentar no computador e começar a digitar. Os diversos ‘Por quês?’ não me saíam da cabeça. Na véspera, sentei e escrevi. A cada frase, lá estava o ‘Por que?’. Não sei se foi o meu melhor texto, mas com certeza não foi uma biografia formal em ordem cronológica com dados e informações técnicas. Mais uma vez eu me descobri nela. Lembra aquele comercial da Faber Castell que um desenho vai dando origem a outro? A música era Aquarela (de Toquinho): “Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo …”. Pude ver ali, naquela biografia de uma página, uma linha que me levou de uma ponta a outra, não uma linha reta, mas uma com muitas curvas e desvios. Achei que estava perdida em muitos desses desvios, mas vi que não. Eles faziam, e fazem, parte da minha estrada.

Descobri que desde pequena gostava de ouvir outros contando histórias. Lembro de sentar perto dos adultos para ficar ouvindo as suas histórias, mesmo sem conhecer os personagens.

Na minha cabeça inventava histórias e personagens. Com os anos as histórias ficaram restritas a livros e filmes. Os interesses e trabalhos circularam no amplo campo do marketing, eventos, encadernação, design e fotografia. O elo comum? O personagem.

Em todos os meus trabalhos o que sempre me cativou foi o personagem. A sua história, como chegar a ele, como dar voz a ele, enfim, como conquistá-lo.

Essa coluna mesmo, quando surgiu a ideia era contar histórias. Até então não tinha escrito nada profissionalmente. Tudo bem que nos últimos meses ela mudou um pouco o perfil, contando a história de um só personagem, mas não deixou de ser uma história.

Agora, estou na fase de começar a trabalhar no meu projeto final. E adivinhem o que vai ser? Isso mesmo: contar uma história sobre mulheres que fazem a diferença em suas famílias e juntas fazem toda diferença numa sociedade que vive em guerra – mulheres de militares que estão servindo ou serviram nas últimas guerras do Afeganistão e Iraque.

Os militares em serviço ficam temporadas de 19 meses fora, e apenas alguns meses em casa, voltando para o front para mais tempo de serviço. As esposas, assumem o papel de mãe solteiras com toda a responsabilidade da educação dos filhos e principalmente, de manter a figura paterna presente na vida das crianças. Muitas vezes, estão em áreas militares, longe da família, não tendo com quem dividir os medos e trabalhos da casa, além de muitas vezes precisarem trabalhar fora para manter as finanças da família. Os obstáculos não terminam quando o soldado volta. Muitos voltam com distúrbios psicológicos, físicos ou simplesmente não conseguem se ajustar a uma vida comum em família voltando-se para violência doméstica e vícios.

Numa sociedade que vive uma guerra a cada geração muito já foi falado, estudado e estruturado para receber os veteranos com danos psicológicos e/ou físicos, mas nada se fala sobre as mulheres, que uma vez mais, ocupam o lugar de mola propulsora.

São elas a fazerem o trabalho de formiguinha, não recebendo medalhas ou reconhecimentos, mas que se não fizessem o mundo seria bem diferente… bem mais amargo e duro.

O nome do projeto por enquanto é – Emprego: esposas de militares. É assim que muitas veem. Um trabalho para qual não receberam nenhum treinamento. Ainda está num estágio bem embrionário  e muita coisa pode mudar, inclusive o tema(*). Fiz a minha pesquisa e comecei a tentar achar algumas conexões para chegar em algumas famílias e personagens. Agora, é rezar e confiar.

 

(*) Esse texto foi escrito em 2012 e o trabalho final acabou sendo sobre adolescentes em uma área de risco no South Bronx, NY, que usam a poesia como válvula de escape.

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