Tempo: inimigo ou aliado?

Tic, tac … tic, tac …

O tempo não pára, já cantava o Cazuza nos anos 80. Mesmo que, em alguns segundos, ou minutos, tudo parece fora do tempo, sem tempo, mas mesmo assim … tic, tac … o tempo continua a (passar inexoravelmente, cada vez mais rapidamente) andar em frente. Nesses breves momentos em que esquecemos da sua existência e do seu domínio é justamente quando estamos em paz com ele e estamos mais próximos de Deus. Se é tão bom, por que são apenas breves e cada vez mais difíceis de conseguir? É de esconde-esconde que Deus está brincando? Por que não conseguimos mais dar conta de tudo o que temos de fazer? É impressão minha, ou o tempo está andando mais rápido? Daqui há alguns meses já é Natal novamente; mais um ano que passa e sonhos são postergados, porque não tiveram tempo suficiente para se transformar em realidade. Mas sempre temos o ano novo, e novas listas de realizações.

O Tempo

Um personagem que nos acompanha desde de que somos gerados, é o nosso primeiro companheiro e com certeza aquele de todas as horas. A ironia está no pouco tempo que lhe damos e quando falamos dele, normalmente, é reclamando. Até porque conosco, mulheres, ele é mais implacável.

Hoje não temos mais tempo para ficar sem fazer nada, só vendo o tempo passar. Não. Precisamos ser produtivos, se possível as 24h do dia. Estamos o tempo todo com a cabeça a mil, preocupadas em buscar o filho na escola, se ele teve um bom dia, o que fazer para o jantar, a cobrança do chefe, se o dinheiro vai dar até o final do mês, o marido, a última dieta que saiu, os amigos, as novidades do mundo, e principalmente a culpa de não darmos conta de tudo como gostaríamos. Culpa. Essa é outra companheira constante, nada agradável, mas cada vez mais presente no dia-a-dia.

Culpa x Tempo

Será que se tivermos mais tempo, teremos menos culpa? Ou arranjaremos mais coisas para fazer com o tempo extra, resultando em mais ansiedade e, por fim, em mais culpa? Os sociólogos e psicólogos de plantão tendem a achar que sim, vamos descobrir mais tarefas.

A grande culpada, agora, é a sociedade da informação, da internet. Nos vemos obrigados a interagir virtualmente o tempo todo, e consumir informação, via internet ou celular, para nos sentirmos produtivos, e, assim, aceitos pela sociedade de consumo que, por sua vez, está nos consumindo e nos descartando quando somos considerados velhos, desgastados, ou quando não nos enquadramos em seus perfis de Facebook ou WhatsApp.

Olhando de fora, é uma bola de neve, que cresce sem parar. Precisamos estar inseridos no mundo em que vivemos e, para isso, precisamos estar bem informados e exercer múltiplos papéis, ao mesmo tempo. Como não conseguimos dar conta de tudo, sentimo-nos culpados e então absorvemos as informações e as repassamos, sem ao menos parar para refletir um pouco. Nos transformamos em canais de passagem, por onde a vida passa, mas não a vivenciamos de fato. A maior prova disso é a obsessão pela fotografia. Como se aquela imagem pudesse se materializar na experiência do momento. Algumas vezes as pessoas dão mais importância ao ato de registrar o momento do que a vivenciá-lo em sua plenitude, contentando-se em poder olhar a foto mais tarde quando chegar em casa. A história pessoal passa a ser um recorte de imagens e não mais memórias recheadas de aromas, sensações e emoções. São artimanhas para aplacar a fúria do vazio que sentimos.

O Tempo pode ser nosso pior inimigo, como vem-se mostrando ultimamente, roubando as nossas horas, nossos dias, nossos anos, nosso convívio com o outro; nossos sonhos, marcando-nos na pele, a ferro e a fogo, impiedosamente, com sua marca. Mas também pode ser nosso aliado, nosso confidente, tratando-nos com carinho, enquanto vivemos o presente e fazemos nossa história, guardando na pele as suas passagens.

Precisamos parar um pouco a cada dia para agradecer a Deus o tempo que tivemos até aquele momento, e como, e com quem, usufruímos dele. Parar para ver o tempo passar e assim decantar tudo que estamos vivendo. Agradecer a Deus por ainda termos tempo para aproveitar a bênção que é a vida e pedir discernimento para que se possa saber honrar o presente que Ele nos deu: o tempo.

Proponho este mês, neste exato instante, uma breve parada de alguns minutos para reflexão da sua vida. Como você está vivendo cada um dos seus papéis? Onde estão os seus sonhos? É no silêncio e no vazio do tempo que encontramos a nós mesmos e a Deus. Tic, tac… Tic, tac… o tempo continua em frente, mas agora ele está do nosso lado, trazendo a tranquilidade que vem da reflexão e do conhecimento.

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